Ética, Indivíduo e Sociedade
Ética não é cosmética ou maquiagem – é algo real e concreto. Do contrário, é cinismo.
O que fará com que uma escolha seja
honesta diante de um dilema ético é a integridade da pessoa. Ouve-se
comumente a frase: “Todo homem tem seu preço”. Qual é o seu preço? Por
que você não se vende – ou por que você se vende eticamente? Trata-se de
uma questão de integridade.
A única coisa que garante a nossa capacidade de lidar com dilemas éticos, cuja resposta seja autêntica, é a nossa integridade.
O que é o dilema? É a dificuldade de responder às três grandes questões da vida humana: “Quero?”, “Devo?”, “Posso?”.
Há coisas que eu quero,mas não devo; há
coisas que eu devo, mas não posso; há coisas que eu posso, mas não
quero. A paz de espírito e a felicidade só existem quando se conciliam
esses princípios. Caso contrário, sobrevêm o sofrimento e a perturbação
pessoal.
O dilema é exatamente a dificuldade de
responder àquelas indagações, combinando-as. Nós que lidamos com jovens
estamos diante de uma questão muito séria: parte deles vive o presente
até o esgotamento.
A escola pública e a escola particular
têm como tarefa fazer com que esses jovens diminuam sua sofreguidão – o
desespero e a ânsia de viver tudo no mesmo dia. Esse problema é tão
premente, que algumas escolas já introduziram técnicas de meditação com o
objetivo de permitir que os alunos diminuam o giro do motor de suas
vidas no cotidiano.
Talvez tenhamos criado uma geração que,
do ponto de vista ético, transformou desejos em direitos. Estamos
dizendo aos jovens algo perigoso, e eles começam a acreditar: a pior
herança do mundo romano, a idéia de carpe diem (“aproveite o dia”). Não
nos esqueçamos de que essa frase de Ovídio foi proferida antes da
decadência do Império Romano, entretanto passou a valer, de fato,
durante o seu declínio.
É a era do vale tudo – e a juventude
acredita nisso. De onde tiraram essa idéia? Às vezes, de nós,
educadores. Mostramos-lhes que não haverá futuro, meio ambiente,
trabalho, segurança. Quando lhes dizemos que seu presente não existe, a
música que ouvem não passa de barulho, a comida que comem é uma
porcaria, que nossa infância foi melhor do que a deles, etc, reafirmamos
a opinião de que eles não têm história. A eles, então, só resta viver o
presente até o esgotamento.
O educador Paulo Freire dizia algo que
não podemos deixar perecer: “É preciso ter esperança, mas ter esperança
do verbo esperançar; porque tem gente que tem esperança do verbo
esperar.
E esperança do verbo esperar não é
esperança, é espera”. As pessoas esperam que tudo dê certo, tudo se
resolva, tudo funcione – isso não é esperança, é espera. A propósito do
convite do SinepeRio para participar deste Congresso, lembrei-me de uma
frase do monge beneditino François Rabelais, do século XVI, um grande
nome da literatura francesa, que tem uma força impressionante e traduz o
que muitos levam em conta na questão ética: “Conheço muitos, que não
puderam, quando deviam, porque não quiseram, quando podiam”. Nós
queremos, devemos e podemos. Temos de fazê-lo.
Concluo com uma frase de um homem que
admiro imensamente, o alemão Albert Schweitzer (1875-1965). Como se
sabe, ele foi um grande médico europeu, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz
nos anos 50, e, recém-formado em medicina, foi embora para a áfrica,
onde ficou por meio século.
Schweitzer certa feita afirmou: “A
tragédia não é quando um homem morre; a tragédia é aquilo que morre
dentro de um homem enquanto está vivo”. A esperança, a possibilidade de
fazer de outro modo e a maneira de reinventar não podem morrer. A ética é
a recusa ao desespero, é a proteção da integridade e a forma de impedir
o apequenamento da vida.
A ética é o combustível da esperança.
Mário Cortella – Filósofo e professor
Disponível em: http://giovannic70.blogspot.com.br/
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